Um dos debates mais comuns entre especialistas do Esporte dedicados ao treinamento na busca do talento, tem a ver com a conveniência na especialização antecipada de jovens atletas. Apesar de não haver muitos estudos científicos que deixam claro sobre a melhor estratégia, aparentemente, parece que a especialização precoce pode aumentar a probabilidade de causas de “burnout” e multiplicação de lesões frequentes devido a fádiga crônica ou uso excessivo. Entretanto, menos ainda, tem sido estudado sobre o quão cedo a especialização precoce por jovens atletas pode influenciar a longevidade esportiva ao longo da carreira profissional.
Uma pesquisa recente analisou o quão cedo a especialização ou prática diversificada de esportes afeta na propensão de lesões e na performance de de jogadores de basquete da NBA. O Estudo, publicado em 2018, no American Journal of Sports medicine, foi baseado na análise de 237 jogadores selecionados na primeira rodada do NBA Draft (draft seria uma peneira, como é conhecido no Brasil) entre as temporadas de 2008 e 2015. Os seguintes dados foram coletados de cada jogador: participação no esporte em colegial secúndario, lesões graves sofridas durante a carreira na NBA, a porcentagem de jogos disputados na NBA e o se o jogador ainda estava ativo na NBA. Os jogadores que participaram durante a escola secundária em diversos esportes fora do basquete foram classificados como atletas “multisport” (n=36) e foram comparados com jogadores que haviam jogado apenas basquete (n=201).
Os resultados mostraram que:
- Os atletas multisport jogaram um número significativo maior de jogos (78.4% contra 72.8%, P<0.001).
- Os atletas multisport tiveram menor probabilidade de sofrer lesões serias ao longo de suas carreiras no esporte (25% contra 43%, P<0.03).
- Uma porcentagem maior de jogadores multisport estiveram ativos no momento em que os dados foram coletados, o que indica maior longevidade na NBA (94% contra 81%, P<0.03).
Os resultados sugerem que apesar de apenas 15% dos jogadores analisados participaram de mais de um esporte durante o colegial secundário, ter um treinamento multiesportivo anterior poderia aumentar o numero de partidas jogadas por jogador, reduzir a probabilidade de sofrer lesões graves, e aumentar a longevidade esportiva. Entretanto, uma porcentagem reduzida de jogadores que basearam seu treinamentos esportivos em praticas variadas diante daqueles que buscaram especialização precoce foram superiores.
Consequentemente, parece que a especialização esportiva precoce pode causar riscos significativos a saúde dos atletas e também podem comprometer a longevidade esportiva e o sucesso na carreira profissional. De qualquer maneira, muitas outras pesquisas precisam ser feitas para permitir maior entendimento da conveniência se a especialização antecipada/precoce no esporte é necessária. Além de aumentar o tamanho da amostra, é preciso estudar em diferentes esportes e países que possuem culturas esportivas diferentes. Também deveria ser levando em consideração não somente aqueles atletas que chegaram ao alto rendimento, mas também a imensa maioria que não chegaram. De acordo com os dados coletados pela federação de futebol Espanhola na temporada de 2016/2017, apenas 1 em cada 2500 jogadores federados vão jogar a primeira divisão. A atenção de pesquisadores e profissionais do esporte devem ser dadas acima de tudo para esses garotos e garotas.
Carlos Lagos penã
Esse é um artigo retirado do Centro de inovação do Barcelona (Barça Innovation Hub), traduzido e adaptado para o Brasil, contribuindo para o estudo e aprimoramento dos profissionais do futebol e auxílio a pais de atletas que desejam garantir o futuro correto para os seus filhos. As informações apresentadas não são respostas definitivas e visam apenas contribuir para a discussão dos temas propostos.
Referências
1 Bell DR, Post EG, Biese K, et al. Sport Specialization and Risk of Overuse Injuries: A Systematic Review With Meta-analysis. Pediatrics. 2018; 142(3):e20180657
2 Rugg C, Kadoor A, Feeley, BT and Pandya NK. The effects of playing multiple high school on National Basketball Association Players’ propensity for injury and athletic performance. The American Journal of Sports Medicine. 2018; 46(2): 402-408.
