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É possível prever o tempo exato de retorno após uma lesão de isquiotibiais (posterior)?

Estudo sobre reabilitação de lesões nos isquiotibiais

Lesões musculares são uma das doenças mais prevalentes em qualquer esporte que exigem movimentos explosivos. No caso do futebol em particular, 92-97% das lesões acontecem nos membros inferiores, a mais comum sendo aquelas que afetam a posterior (28-37%), quadríceps (19-32%), adutores (19-23%) e músculos do gastrocnêmico (panturrilha) (12-13%). A grande quantidade de padrões de recuperação e tempo eles representam desafios em decidir qual o tempo ideal para um jogador voltar a competir. Acelerar nessa decisão pode potencialmente levar a recorrência e, consequentemente, a um tempo final de recuperação maior do que deveria ter em primeiro lugar.

Apesar de estratégias preventivas, muitos atletas (12-43%) sofrem da recorrência de suas lesões musculares durante o período de reabilitação. As razões para isso são diversas: a falta de consenso no tempo ideal de retorno a competição nesse caso em lesões de isquiotibiais, uma grande quantidade de lesões e tipos de recuperação, a alta demanda física durante partidas ou os diferentes critérios nos protocolos de reabilitação. Nem mesmo os métodos de imagem mais sofisticados, como exame de imagem por ressonância magnética, se provou um grande aliado para predizer o tempo exato do qual um jogador de futebol lesionado deva retornar a competição.

Baseado nessa premissa, Dr. Xavier Valle, um membro da comissão médica do F.C. Barcelona, liderou um estudo com objetivo de encontrar um sistema de classificação capaz de indicar o grau da lesão, oferecendo um prognóstico do tempo de retorno a competição e identificar as lesões com maior taxa de recorrência – precisão da predição de retorno ao jogo do sistema MLG-R para lesões de posterior em jogadores de futebol: uma abordagem de aprendizagem da ferramenta. Um sistema de classificação selecionado foi o MLG-R, baseado em exame de ressonância magnética. O acrônimo refere-se ao mecanismo de lesão musculoesquelético (M), a localização (L), o degrau de severidade (G) e o número de recorrência da lesão muscular (R). Três diferentes abordagens estáticas e de aprendizagem de maquina (regressão linear, natureza aleatória, e impulso de gradiente extremo) foram usados para indicar a importância de cada fator da classificação MLG-R em determinar o retorno ao jogo, bem como para oferecer a predição esperada para retorno ao jogo.

Variáveis relevantes para indicar o tempo de retorno ao jogo

Entre 2010 e 2020, 76 lesões de posterior atingiram o critério de inclusão para o estudo que envolvia jogadores do Barcelona FC, Barcelona B, Juvenil A e Juvenil B. Apesar dos resultados, o músculo mais comumente afetado a porção longa do músculo bíceps femoral com 51 casos (71.1%), o local mais frequente foi o terço proximal da coxa ao redor da junção miotendínea proximal com 33 casos (43.4%), e a mais comum avaliação foi a 3° com 50 casos (65.8%). A média de duração de todas as lesões foi 29.11 dias.Ícone "Verificada pela comunidade"

A abordagem compreensiva baseada em três modelos de abordagem estática e de aprendizagem de maquina mostraram que o grau de lesão (3°) e o local (tendão livre) foram os principais determinantes para o retorno ao jogo. Quando identificados diferenças em retorno ao jogo de acordo com o grau de severidade, lesões de grau 3 mostraram um tempo de espera de 37 dias para retorno, enquanto que o período para outros graus foram de 12-14 dias.

Outro indicador relevante para indicar o retorno ao jogo é o local da lesão na junção miotendínea. Quando a lesão afeta a junção motendínea proximal, o tempo médio de recuperação foi de 31.7 dias, enquanto que quando afetou a região distal da junção miotendínea, o tempo médio de recuperação caiu para 23.9 dias.

O maior tempo de recuperação foi detectado nas lesões de grau 3 da cabeça longa do biceps femoral e localizados no tendão livre, com um tempo agressivo de 56 dias. O tempo reduziu drasticamente quando esse tipo de lesão está localizado na parte medial do tendão, com um tempo médio de 24 dias.

 

A matriz extracelular, um fator chave no prognóstico

Uma das principais construções desse estudo foi focar a atenção em avaliar as lesões de posterior para a função da matriz extracelular e estruturas conectivas do tecido entre musculo e tendão. Por anos, a contração muscular foi analisada de maneira linear, unidimensional e de maneira simplista, assim como a matriz extracelular (MEC). Entretanto, a contração muscular ocorre em três dimensões, então é necessário avaliar o músculo como um todo para entender a sua estrutura, função, mecanismo e patologia.

O MEC é uma estrutura tridimensional distribuída assimetricamente e de maior para menor densidade estrutural. Sendo assim, um entendimento através da anatomia dos músculos e especialmente da junção miotendínea é básico para entendimento próprio das lesões musculares.

A implementação do sistema de classificação introduzido no presente estudo providência uma descrição objetiva da lesão a nível topográfico (local), cronológico (quantas vezes) e a nível estrutural (grau da lesão), além disso minimizar a subjetividade da descrição e possibilitar o retorno ao jogo para ser predito mais precisamente do que em demais publicações.

Deve ser pontuado que o fator principal causador de maior tempo de retorno ao jogo após uma lesão de posterior é o efeito da lesão nas estruturas do tecido conectivo da posterior. Dessa forma, a estrutura MEC e o seu papel em gerar força e transmissão são fatores chave na identificação dos sinais, sintomas e prognósticos das lesões musculares das quais é a razão pelo qual o sistema de classificação foi criado com o objetivo de indicar e quantificar as lesões do MEC.

A equipe Barça Innovation Hub

Esse é um artigo retirado do Centro de inovação do Barcelona (Barça Innovation Hub), traduzido e adaptado para o Brasil, contribuindo para o estudo e aprimoramento dos profissionais do futebol e auxílio a pais de atletas que desejam garantir o futuro correto para os seus filhos. As informações apresentadas não são respostas definitivas e visam apenas contribuir para a discussão dos temas propostos.

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